sábado, 15 de janeiro de 2011

TRIBO URBANA DOS SKATISTAS STREETS EM BELÉM

Tribo urbana dos Skatistas Streets EM BELÉM: APARÊNCIAS E DISCURSOS
Valcilene Costa Ribeiro (Pedagoga; Especialista em História do Brasil e graduando em História / UVA) lenne_ribeiro@hotmail.com
Rui Jorge Moraes Martins Júnior / co-autoria (Mestrando em História Social da Amazônia / PPHIST / UFPA) rm27_28@hotmail.com


RESUMO
O artigo faz uma análise da ampliação do universo social que se altera de acordo com a percepção da realidade dos indivíduos, propiciando a experimentação de novas práticas e experiências sociais culminando em mudanças comportamentais, obrigando-os a redefinir suas práticas e se caracterizando por agrupamentos semi-estruturados no contexto urbano. É importante compreender as tribos como comunidades de sobrevivência afetiva dentro da vida urbana. Cada uma se caracteriza através de seu vestuário sendo sua característica especifica do grupo. O objetivo deste ensaio é propor uma reflexão sobre os grupos conceituados “tribos urbanas” e as tramas sócio-históricas na qual estão inseridos. A idéia é abordar as pluralidades sociais vivenciadas na cidade a partir de determinados contextos. Historiar a cidade provoca a abertura para um universo de sintomas sociais por vezes negligenciados pela história, revelando uma face do cotidiano de cidadãos anônimos em situações mutáveis e socialmente complexas. As metodologias empregadas nesta pesquisa foram às confluências de referenciais bibliográficos e teóricos com memórias coletadas em espaços pré-definidos na cidade de Belém. Foram realizadas entrevistas individuais, direcionada aos skatistas e pessoas que moram nas proximidades do local onde o grupo se reúne, a fim de recuperar memórias e interpretar discursos e tendências visuais.

Palavras-chave: Cultura Material; Moda; Tribos Urbanas.






Tribo urbana dos Skatistas Streets EM BELÉM: APARÊNCIAS E DISCURSOS
Valcilene Costa Ribeiro (Pedagoga; Especialista em História do Brasil e graduando em História / UVA) lenne_ribeiro@hotmail.com
Rui Jorge Moraes Martins Júnior / co-autoria (Mestrando em História Social da Amazônia / PPHIST / UFPA) rm27_28@hotmail.com


introdução
“Éramos uma pá de apocalípticos, de meros hippies, com um falso alarme... Economistas, médicos, políticos. Apenas nos tratavam com escárnio.” Lenine / Carlos Rennó

Entre os vários tipos de grupos ou “tribos urbanas” surgidas nos últimos tempos encontramos a tribo dos Skatistas Streets, servindo como um elemento de identificação de jovens que praticam o Skate Street (skate de rua). Curtem o mesmo estilo musical e vestem roupas largas, que funcionam como um ícone de identidade para o grupo. [1] Portanto a moda naturalmente se acomoda no imaginário do coletivo e é mais um, entre tantos outros, “sentimento da cidade” [2], mencionando Giulio Carlo Argan.
As tribos urbanas estão presentes, principalmente, nos grandes centros urbanos. E na cidade de Belém, encontramos uma quantidade considerável de Skatistas. Sua presença pode ser evidenciada principalmente nas praças e ruas, assim, é preciso entender a cidade, enquanto uns emaranhados de obstáculos e em constante transformação sendo re-elaborados por eles, pois os caminhos traçados pelos Skatistas vão reformulando a idéia de espaço público. As ruas, praças e as edificações, vêm sendo utilizadas com outra perspectiva, não apenas como via pública, mas como suporte para expressar sua linguagem e apropriações que são traduzidas nas suas manobras.
A idéia é abordar as pluralidades sociais vivenciadas na cidade a partir de determinados contextos. Historiar a cidade provoca a abertura para um universo de sintomas sociais por vezes negligenciados pela história, revelando uma face do cotidiano de cidadãos anônimos em situações mutáveis e socialmente complexas.
Para Maria Stella Brescianni “as cidades são antes de tudo uma experiência visual” [3] e cabe ao historiador interpretar as multiplicidades desse espaço para além da realidade edificada em prédios e praças. A cidade deve ser entendida como um espaço de constante sociabilidade e que ganha contornos visuais, sonoros e culturais a partir das experiências dos que estão inseridos nela.
Segundo Marcos Luiz Bretas graças aos diálogos com a antropologia e a historiografia francesa “ao introduzir conceitos como cotidiano, mentalidades, imaginário [...]” encontra-se motivos que “justificam o abandono do papel tradicional da história como forjadora do presente e a busca de novos significados e abordagens”. [4]
Na perspectiva de que o espaço físico, registros materiais e as culturas urbanas são elementos constitutivos da vida dos moradores de uma cidade, deve-se trabalhar a relação dos habitantes com suas configurações físicas e imaginárias, refletindo sobre as formas como constroem, ocupam, usam, consomem e disputam lugares, dando sentido a eles, projetando sonhos, vivendo carências, no entretecer de uma trama imbricada de costumes, tradições, crenças, hábitos, códigos, normas, políticas, condições físicas do lugar, rotinas diárias e, também, de memórias, inscritas tanto no traçado e na paisagem da cidade, quanto no imaginário de seus moradores.
De acordo com Brescianni, dentre as possibilidades documentais para se historiar as cidades estão as descrições de viajantes, relatos de memorialistas e textos de literatos. Vale ressaltar que estas fontes não encerram, no campo interpretativo, as complexas tramas vivenciadas na cidade e nem as motivações que levam as transformações nas formas do traçado urbano e das edificações. Num balanço histórico sobre as produções que inquiriram cidade, Brescianni ressalva que ocorreram “avaliações complexas e contraditórias inicialmente realizadas por filósofos, filantropos, médicos, logo depois, por engenheiros sanitários, historiadores, sociólogos e urbanistas [...]” [5]. Esta trajetória de iniciativas que estudaram a cidade, atualmente vem ganhando grau de importância pela historiografia destinada a problematizar a produção atual e a proceder balanços sobre o tema, seus desafios atuais e às relações entre história, memória e cultura.
Para Maria Izilda Santos de Matos “as transformações no espaço urbano vêm atraindo a atenção de vários historiadores”, porém lança uma advertência quando diz que “algumas questões ainda não tem merecido a devida atenção (cabe destacar a falta de observação nas tensões entre os espaços privado e público).” [6] A idéia então é começar outra história para um maior aprofundamento nos sintomas sociais.

Roupas, apresentação e atitude

No caso dos estudos sobre a cidade e a experiência urbana “moda”, espaços vividos, construídos e compartilhados, disputados, conquistados ou perdidos, impregnam-se na consciência dos moradores da cidade, sendo constantemente resignificados e atualizados pela memória. Essa elaboração ocorre numa trama dinâmica de relações, no entrelaçar de perspectivas passadas e presentes, na qual cada um faz uso de instrumentos socialmente criados e compartilhados, que o historiador busca compreender e explicar. Para tanto este deverá lançar mão de novas fontes a fim de melhor entender os meandros da vida social.
Historiar as roupas nos leva a compreender de forma mais tipográfica a materialidade da moda. Sendo assim a idéia nesta explanação não é definir o conceito cultura material, mas pensar nas noções teórico/metodológicas que implicam a utilização deste conceito. Vários historiadores passaram a tecer a história do passado a partir da idéia de cultura material, vida material, signos materiais, seja como for a definição, estes estudos ajudam o historiador a interpretar como os objetos, os utensílios, as roupas para citar apenas alguns objetos[7] que constituem cultura material, interferem e estabelecem interlocuções no campo do simbólico com seus usuários. Estudar e historiar as coisas[8] que cercam, embalam e especificamente que vestem as relações sociais exige do historiador perspicaz grau interpretativo para construir cenas históricas da realidade fragmentada na documentação.
É durante o estudo e pesquisa de campo sobre a “tribo urbana” dos skatistas street, ficou fácil identificar que a questão do que usar é uma regra que todos devem seguir como uma forma de representação para identificar quem faz parte ou não da “tribo”e durante o processo de investigação e entrevistas isso pode ser percebido.
A partir do contato inicial com alguns membros das tribos dos skatistas foi possível mapear suas trajetórias pela cidade de Belém. Encontramos com alguns skatistas em uma loja de equipamentos e roupas específicas para Skate que se localiza ma Rua Conselheiro Furtado esquina com Presidente Pernambuco, no dia 25 de Agosto onde já tivemos uma apresentação de uma forma bem espontânea. Nosso contato foi com um vendedor da loja e o proprietário, que relatou que os Skatistas tem uma federação. Federação Paraense de Skate (FPSk). E por sorte naquele mesmo dia tivemos contato indireto com o presidente e o vice da Federação. E através de uma conversa conhecemos e localizamos os “points” onde o grupo costuma se reunir e algumas especificidades do grupo, essas informações foram de extrema importância para traçar a trajetória e o perfil dessa “tribo” em Belém. Ficamos sabendo onde encontrar a tribo pela cidade de Belém
Observamos também que os preços dos equipamentos e roupas utilizados pela tribo são bastante elevados e isso demonstra que a maioria dos Skatistas pertence às classes média e média baixa e tem como uma de suas principais características roupas largas, tatuagens, etc. Eles utilizam o Skate quase a todo o momento, é um acessório do dia-dia. Trabalhar com o conceito Cultura Material suscita preocupação com elementos comuns que estariam presentes em todas as manifestações sociais e materiais de um determinado período (econômico, material, político, ideológico, imaginário). Apoiando-se nessa perspectiva Ulpiano T. Bezerra de Meneses diz que a biografia dos objetos introduz novo problema: a biografia das pessoas nos objetos[9]. Para Pesez “materialidade supõe que, no momento em que a cultura se exprime de maneira abstrata, a cultura material não está mais em questão.” [10] Esta observação de Pesez clarifica no sentido teórico que a manifestação da cultura material é proveniente das próprias estruturas socioeconômicas e das relações sociais.
Percebemos no decorrer da pesquisa que os Skatistas Streets se utilizam de espaços já demarcados pela “tribo” os quais são: Bairro da Condor, Praça Princesa Izabel, Praça do Complexo Arquitetônico de Nazaré – Barro de Nazaré, Praça Lauro Sodré em São Braz, espaço da Duque de Caxias no bairro do marco e, aos domingos, na Praça Da república. Aliás, vale suscitar as idéias de Guillaume Erner sobre a relação espaço público – rua com a moda: “a rua é laboratório da moda”.[11]

ELES SE APRESENTAM...

O primeiro contato foi com skatista conhecido pelo apelido de “Cabelo”, que trabalhava em uma loja especializada em roupas e equipamentos para skatistas. Ele nos indicou alguns “picos” freqüentados pelos Skatistas Streets em Belém. “Cabelo”, com idade de 27 anos, nos relatou também que há muitos conflitos no interior da “tribo” devido alguns não terem condições de ter equipamentos melhores, ou seja, “importado”. E sempre o Skatista mais antigo dentro do grupo serve de referência aos novatos.
Segundo Diógenes (1998, p. 23) “Curiosamente, ao redor da turma concentram-se crianças de todas as idades, parecem aprendizes, escutam e quase nunca tem espaço para emitir opiniões ou mesmo para formular perguntas”. “Cabelo”, também explica que os campeonatos nacionais só acontecem mais fora do Estado e que aqui ficam apenas as etapas eliminatórias. Os “points” dos Skatistas Streets em Belém. Com base nas informações fornecidas por “Cabelo”, saímos à procura de mapear os “points”.
Fomos à Praça Princesa Izabel que se localiza na Avenida Bernardo Sayão em frente a Rua Alcindo Cacela ao lado dos Palácios dos Bares, no dia 14/09/05 às 15 horas. Tivemos contato com o segurança do local ele relata que: “os Skatistas estão sempre no espaço da praça “brincando” eles estão na faixa etária de 17 a 25 anos, sempre das 17 horas em diante. E além dos Skatistas existem outros freqüentadores da praça, como: grupos que usam drogas entre 12 e 20 anos, grupo de garotos que tomam banho pela manhã e tarde e aos domingos há uma diversidade de grupos na Praça Princesa Izabel. Vale registrar que segundo o informante os skatistas não tem envolvimento com esses grupos já citados e que suas atividades na praça não geram nenhum conflito com os demais grupos. Outro point é a praça do CAN, que se localiza na rua D. Alberto, Av. Nazaré e Generalíssimo e a rua da basílica, no primeiro momento ficamos observando os grupos de jovens que ali estavam, podemos observar que a maioria dos freqüentadores são de classe média e média-baixa, sempre observando o comportamento daqueles grupos vimos em sua maioria grupos de estudantes, alguns casais de namorados,entre outros.
Abordei um rapaz que se identificou pelo apelido de “Graveto” de 21 anos, grafiteiro que relatou que já participou da tribo dos skatistas mas por motivo financeiro não teve mais condições de continuar e então entrou para a tribo dos grafiteiros e que faz parte de uma ONG chamada AURB ( Artistas Urbanos de Belém) com o apoio do IAP ( Instituto de Artes do Pará) e desenvolve projetos nas comunidades pobres. Graveto relatou que pelo fato de sempre estar na praça, vê a presença de várias tribos de skatistas, bike, punks.
A socióloga Glória Diógenes, no seu livro “Cartografia da cultura e da violência:Gangues, galeras e movimentos Hip Hop, argumenta que além do trabalho, que tem servido como referencia central de cidadania nas mais diferentes sociedades, devemos lembrar outros critérios de integração”
“Uma noção de território que transcende a dimensão físico-espacial dos espaços segregados da cidade e uma dinâmica de consumo divorciada dos processos de trabalho. A perspectiva de integração pelos jovens de esferas sociais diversas parece estar antenada a novos modos de inserção de referentes do que denominar uma cidadania global”. (Diógenes, 1998, p.37)
Já na Praça Floriano Peixoto em São Braz entre a Rua Farias de Brito e Almirante Barroso na mesma área do mercado de São Braz.. Entramos em contato com uma moça de 22 anos que trabalha com vendas na área, ela relatou que a praça não tem policiamento e tem muitos casos de assaltos e muitas crianças cheirando cola, os skatistas sempre vêm mais nos horários de 18:00 horas em diante e há também grupos de moradores de rua e grupos de dança de rua.A Jovem relata com indignação que a praça não é mais a mesma, está abandonada e que o mercado de São Braz, no qual está localizado seu comércio, poderá ser transformado em um teatro.
No skate park localizado na Av. Duque de Caxias entre Lomas Valentina e Dr. Enéas Pinheiro, observar-se várias modalidades de esportes como: Bicicross, patins e em sua maioria o Skate. Observamos também grupos de meninos e meninas que ficam observando os garotos andando de Skate. Aos redores desse local encontram-se poucas residências, há mais pontos comerciais. O Skate Park está sem estrutura, pois o que podemos perceber que não há uma conscientização em relação a conservação do espaço.
Por haver uma maior concentração de skatistas, decidimos fazer nossas entrevistas neste local, pois é um “pico” ou “point” bastante freqüentado e ali sempre acontecem as competições realizadas na cidade de Belém e podemos ate categorizar este espaço o mas importante para os participantes da tribo. Na Primeira visita ao local percebemos que a partir das 5 horas da tarde começa a chegar ao local os integrantes da tribo dos skatistas Streets. Percebemos que desde nosso primeiro contato a nossa presença foi bem aceita pelos skatistas.
Vale ressaltar que há uma hierarquia, pois quando os skatistas chegam neste local os outros que praticam outras modalidades de esportes saem. O que já é uma regra pré-estabelecida. Os skatistas deslizam pelas ruas quebrando rotinas, surpreendendo transeuntes, se apropriando dos obstáculos parados. Esse procedimento contraria a ordem estabelecida dos lugares construídos apenas como espaço público esses grupos constroem uma nova interpretação estabelecendo estes espaços para a prática desse esporte.
Neste contexto, podemos enquadrar esses skatistas streets, quando eles se apropriam da cidade e de sua arquitetura. Olhando com outros olhares a urbanização, podemos apresentá-los à sociedade como os novos arquitetos urbanos, essas tribos realizam novos traçados, trafegam em contramão, utilizam-se de calçamentos e meio-fio para a criação das manobras.
A tribo dos Skatistas Street, se apresenta como os “novos” arquitetos urbanos, que, com seus modos displicentes e arrojados e com suas aventuras, vão engendrando caminhos, construindo obstáculos, vendo a cidade um emaranhado de obstáculos, esses jovens vão ressignificando o espaço público, criando lugares, revitalizando a modernidade, desenvolvendo outros olhares recriando a cidade.
Se apropriar da rua constitui-se na principal atividade do skatistas streeters, pois é na rua que eles assumem a plenitude de sua identidade quanto skatista streeters. O estar junto é definido pelo gosto de andar de skate e i que garante a unidade do grupo nos acompanhamentos algumas atividades da tribo, no skate park.
A tribo dos skatistas é composta em sua maioria por rapazes de 12 a 25 anos e tem uma minoria de meninas que tem idade entre14 e 19 anos, não tem como definir um número exato de integrantes da tribo, pois a entrada e saída da tribo são muito constantes não tem regras a não ser andar de skate, não há especialidades. A única regra pra fazer parte da tribo é andar de skate e conseqüentemente se adequar ao modo de se vestir, segundo Mafessoli, somos convidados a incessante “trevelling” (Mafessoli, 1987, p.107). A adesão as tribos é sempre fugaz não há um objeto concreto para estes encontros que possa assegurar a continuidade trata-se apenas de amizades que no caso dos skatistas é pelo esporte que praticam que se reúnem ritualisticamente com a função exclusiva de andar de skate.
Foram feitas entrevistas com os moradores dos arredores do Skate Park da Avenida Duque de Caxias, com o objetivo de identificar e analisar as idéias e visões que esses sujeitos têm sobre a tribo urbana dos skatistas Streets. Buscando caracterizar o impacto dessa tribo e como são configurados os processos de socialização e interação com esses sujeitos. Onde pretendemos definir as fronteiras simbólicas condensando a imagem que a sociedade faz dessa tribo buscando identificar a dinâmica social que ocorre entre moradores e skatistas

O UNIVERSO DOS SKATISTAS STREETERS EM BELÉM

Nas entrevistas coletadas na pesquisa de campo realizada no Skate Park da Avenida Duque de Caxias, a relação que estabelecemos com os skatistas Streets, desde o primeiro contato ocorreu com membros isolados e em outros momentos com grupos em si. Durante a pesquisa de campo os encontros se estabeleceram algumas vezes na loja Menem, onde procuramos entrar em contato com o presidente da Federação Paraense de Skate.
A primeira informação coletada nesta etapa de nossa pesquisa, sobre os skatistas streets foi concedida por Walter Mártires, 23 anos, residente no bairro do Marco com a família, o informante faz parte da tribo há oito anos e participa de campeonatos na categoria profissional e há pouco tempo participou de campeonatos internacionais representando o país e conta com o patrocínio do governo do Estado através da Secretaria de Esporte e Lazer (SEEL ), vive do skate e já concluiu o ensino médio.
Perguntamos se há uso de drogas entre os skatistas o informante foi avisado e relatou: “Há drogas em todos os setores da sociedade, e cada um utiliza da maneira que bem entende.” ( Walter Mártires)
Em relação à utilização do espaço público pelos skatistas o informante relata: “A arquitetura da cidade parece com algumas cidades européias, porque tem muitas construções de mármore. Acho que tem a ver com o tipo de colonização, o que, para nós, os skatistas é muito importante para praticar o skate na rua.” (Walter Mártires)
Através do seu depoimento ele diz que entre os skatistas não há líder, há somente aqueles que se destacam no grupo através de seu desempenho no esporte. E para fazer parte basta apenas andar de skate.

“Hoje o jeito de se vestir do skatistas já virou moda e isso muitas vezes não basta só a roupa, é preciso ter atitude e objetivo, e não simplesmente vestir uma roupa e sair desfilando, e sim pegar o skate e sair pela rua explorando seus obstáculos naturais. A sociedade não encara os skatistas como esportistas, acham que ficamos apenas brincando e que não temos objetivos mas basta o cara ficar conhecido na mídia e pegar em dinheiro que todos os preconceitos acabam.” (Walter Mártires)

Isabela Jatene em sua obra de dissertação traz discussões sobre a tribo dos skatistas e quando se refere ao modo de se vestir afirma que (Souza, 1999, p.85) “Os skatistas usam roupas diferentes, bem folgadas para facilitar as suas manobras. Usam calças de morto (Calças bem largas) ou bermudas frouxas com cortes largos, camisas grandes, bonés e tênis.”
Outro entrevistado foi Hugo (Mascate) 20 anos, residente no bairro Umarizal com a família e faz parte da tribo há 7 anos, é estudante e não trabalha, no seu tempo livre sempre está pelas ruas praticando o skate. E segundo o informante não há nenhum tipo de regra para fazer parte da tribo basta andar de skate e não há líder no grupo e em relação a participação das meninas diz que não tem nada contra que é muito bom, que algumas se interessam pelo skate.
Quando perguntamos sobre a utilização do espaço público pelos skatistas streeters, ele diz: “O espaço público é muito importante para nós skatistas é andando pelas ruas que vamos praticando os mais diversos e inesperados obstáculos”. (Hugo)
E quanto ao uso de drogas entre os integrantes da tribo? Ele diz:
”Existe, se ele usa é problema dele, ninguém vai de contra, mas não é a maioria que usa drogas.”(Hugo)
Ele expõe sua frustração em relação à falta de apoio dos órgãos responsáveis pelo esporte que não consegue atender a todos, principalmente durante os campeonatos e também o preconceito que a tribo sofre. Ele relata:

“Precisamos aliar forças e fazer o skate crescer e deixar de negativismo. E deve ter mais apoio para nos que nos dedicamos à pratica do skate . A sociedade tem muito preconceito e as pessoas não discriminam somente por estar de skate na mão. Certo dia eu vinha com meu skate e uma senhora quando me viu vindo na rua, logo segurou a bolsa. Fiquei muito chateado. Puro preconceito.(Hugo)

Glória Diógenes traz uma discussão sobre discriminação e ressalta sobre esse tema (1998, p.84):
“O termo ‘marginalidade’ passou a ser utilizado amplamente após a segunda guerra mundial, com a intensificação do ritmo de urbanização que culminou com as grandes concentrações urbanas. Populações que migram para os centros urbanos passam a se localizar nas periferias e áreas não valorizadas pela especulação imobiliária das grandes cidades. Como marginal, na língua portuguesa e espanhola significa um vagabundo, um insolente, um individuo perigoso. Verifica-se que utilizar este termo no Brasil tem o mesmo significado empírico de se falar dos desviantes”

Em seguida entrevistamos o Skatista Edubario, conhecido como Bart de 21 anos, casado, residente no Bairro Guamá, não concluiu o ensino médio, trabalha na loja Menem da qual já nos referimos é praticante de skate street há 5 anos, ele diz que não há líder entre os skatistas, apenas aqueles que se destacam no esporte, não há regras para fazer parte da tribo e quanto à participação das meninas no esporte, ele relata que: “ O toque feminino sempre agrada os homens”.
Quanto a ser diferente do resto da sociedade, ele relata:
“Acho que todo mundo é igual, e cada um tem seu estilo de se vestir.” Em desabafo ele segue: “ O esporte ainda ta sendo escasso.A sociedade Belenense não apóia o esporte só vê a gente como marginais, vagabundos. A federação deveria realizar mais eventos e dar mais auxilio e divulgação sobre o esporte. Outro dia andando de skate no bairro Riacho Doce os policiais chegaram e mandaram a gente parar de andar, jogaram fora nossos obstáculos chamando a gente de vagabundo. Em vez de fazer algo de bom pra comunidade, ele vem interromper a gente que só quer andar de skate.”

Essas entrevistas nos permitem vislumbrar um pouco de como se dá o funcionamento cotidiano da tribo dos skatistas streeters observa-se o caráter sazonal das relações dos skatistas, conhecer ou estar com alguém não é como regra principal do grupo, mas sim interagir junto ou individualmente explorando a arquitetura urbana, é esse o interesse comum da tribo, ao ver não é difícil perceber que estão juntos mesmo quando estão andando pelas ruas “sozinhos” e que isso é reflexo não só do visual, mas da atitude.

CAMPEONATO DE SKATE EM BELÉM

No dia 19 de Outubro de 2005, aconteceu no skate park da Duque de Caxias um campeonato de skate. Lá foi possível ver reunido um grande número de integrantes da tribo, neste dia foi possível entrar em contato com a Federação Paraense de Skate que nos recebeu muito bem através do atual presidente chamado “Guto” mais conhecido com “ Formiga” . Esse campeonato teve apoio de vários segmentos comerciais, civil e militar. Com ativa participação da SEEL ( Secretaria de Esporte e Lazer ).
Este dia foi importante para se observar o comportamento, atitude e faixa etária dos integrantes da tribo urbana Skate Streets. O todo se subdividia em pequenos grupos reafirmando que o fato que os une e o esporte neste o presidente da federação o qual nunca encontrávamos para nos dar entrevista , ele nos forneceu o endereço eletrônico da federação, que por sinal foi a única fonte que nos serviu para ter alguma informação até aquele momento de pesquisa, de como a federação vinha desenvolvendo o esporte em Belém.
O fato que nos foi bastante interessante é que o skatista não se prender a valores políticos, sociais e nem econômicos, apesar de que é um esporte muito caro. Seus equipamentos tem um valor considerável para quem não tem uma boa situação financeira. Nesse campeonato que presenciamos percebemos que o skatista tem em media um minuto para se apresentar em uma área de competição que geralmente imita elementos da arquitetura da cidade. É importante citar que neste dia foi muito significante para o trabalho, o contato com várias tribos, o que permitiu definir as fronteiras simbólicas das tribos que ali se agrupavam, foi importante para definir o produto de interação entre imagem que eles representam para si e a imagem que a sociedade faz deles.






REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO
ARGAN, Giulio. História da Arte como história da cidade. 5ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

BRESCIANNI, Maria Stella. História e Historiografia das Cidades, Um Percurso. In: FREITAS, Marcos Cezar de (Org.). Historiografia Brasileira em Perspectiva. 2. ed. São Paulo: Contexto, 1998.

BRETAS, Marcos Luiz. Ordem na cidade: o exercício cotidiano da autoridade policial no Rio de Janeiro, 1907 – 1930. Rio de Janeiro: Rocco, 1997.
DIÓGENES, Glória, cartografias da Cultura e da Violência: Gangues, galeras e o movimento. São Paulo: Annablume, 1999.
ERNER, Guillaume. Vítimas da moda? Como a criamos, por que a seguimos. São Paulo: Editora Senac SP, 2005.
MAFESOLI, Michel. A dinâmica da violência. São Paulo: Vértice, 1987
MATOS, Maria Izilda Santos de. Cotidiano e cultura. Bauru, SP: EDUSC, 2002.

PESEZ, Jean-Marie. História da Cultura Material. In: LE GOFF, Jacques. A História Nova. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
SOUZA, Isabela Jatene.“Tribos Urbanas” em Belém: Drag Queen - rainhas ou dragões? Belém: UFPA, 1997. (Dissertação de Mestrado)


[1] Para saber mais sobre identidade das roupas e cultura das aparências conferir: CRANE, Diana. A moda e seu papel social: classe, gênero e identidade das roupas. São Paulo: Editora SENAC SP, 2006; ERNER, Guillaume. Vítimas da moda? Como a criamos, por que a seguimos. São Paulo: Editora Senac SP, 2005; KOHLER, Carl. História do vestuário. Edição e atualização de Emma von Sichart. 2ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001; LAVER, James. A roupa e a moda: uma história concisa. Capítulo final [por] Christina Probert; tradução Glória Maria de Mello Carvalho. São Paulo: Companhia da Letras, 1989; LIPOVETSKY, Gilles. O Império do Efêmero: a Moda e seu destino nas sociedades modernas. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.

[2] Giulio Carlo Argan em seus estudos sobre o valor estético da cidade nos coloca que o espaço citadino deve ser tratado como espaço visual, que carrega muito mais que o visível ou o concreto. Tal espaço está impregnado de valores e níveis culturais. Vide ARGAN, Giulio. História da Arte como história da cidade. 5ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

[3] BRESCIANNI, Maria Stella. História e Historiografia das Cidades, Um Percurso. In: FREITAS, Marcos Cezar de (Org.). Historiografia Brasileira em Perspectiva. 2. ed. São Paulo: Contexto, 1998, p. 237.

[4]BRETAS, Marcos Luiz. Ordem na cidade: o exercício cotidiano da autoridade policial no Rio de Janeiro, 1907 – 1930. Rio de Janeiro: Rocco, 1997, p. 10.

[5] BRESCIANNI, Maria Stella. Cit., p. 242.

[6]Vide MATOS, Maria Izilda Santos de. Cotidiano e cultura. Bauru, SP: EDUSC, 2002, p. 37.

[7] Jean-Marie Pesez argumenta que “a cultura material faz parte das infra-estruturas, mas não as recobre; ela só se exprime no concreto, nos e pelos objetos. Em suma, a relação entre o homem e os objetos (sendo aliás o próprio homem, em seu corpo físico, um objeto material), pois o homem não pode estar ausente quando se trata de cultura.” Vide PESEZ, Jean-Marie. História da Cultura Material. In: LE GOFF, Jacques. A História Nova. São Paulo: Martins Fontes, 2005, p. 242.

[8] Luiz Antonio Valente Guimarães lança mão da idéia de história das coisas em sua dissertação As casas & as coisas: um estudo sobra vida material e domesticidade nas moradias de Belém – 1800 – 1850. Conferir também ROCHE, Daniel. História das coisas banais, o nascimento do consumo séc. XVII – XIX. Rio de Janeiro: Rocco, 2000; Idem. A cultura das aparências: uma história da indumentária (séculos XVII-XVIII). São Paulo: Editora Senac, 2007.

[9] Para o autor “O que faz de um objeto documento não é, pois, uma carga latente, definida, de informação que ele encerre, pronta para ser extraída, como o sumo de um limão. O documento não tem em si sua própria identidade, provisoriamente indisponível, até que o ósculo metodológico do historiador resgate a Bela Adormecida de seu sono programático. É, pois, a questão do conhecimento que cria o sistema documental. O historiador não faz o documento falar: é o historiador quem fala e a explicitação de seus critérios e procedimentos é fundamental para definir o alcance de sua fala. Toda operação com documentos, portanto, é de natureza retórica. Não há por que o documento material deva escapar destas trilhas, que caracterizam qualquer pesquisa histórica.” MENESES, Ulpiano T. Bezerra de. Memória e cultura material: documentos pessoais no espaço público. Cf. artigo completo no site http://www.cpdoc.fgv.br/revista/arq/238.pdf

[10] PESEZ, Jean-Marie. Cit., p. 242.

[11] ERNER, Guillaume. Vítimas da moda? Como a criamos, por que a seguimos. São Paulo: Editora Senac SP, 2005, p. 114.

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